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O medo de ter Medo
Coragem não pode se unir à inconsequência. Entenda quando o medo é interessante e quando ele te atrapalha
23/11/2021 10:05 - 3.953 visualizações - 5 comentários
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Olá, meu nome é Bruno e eu tenho medo, muito medo.


Já fui diversas vezes à parques de diversão. Todas as vezes olhando para a maravilhosa Montanha Russa, aquele amontoado de madeira e metal que faz até o Dominic Toretto paracer lento. Apesar de achá-las incríveis, eu sempre tive MUITO medo de andar naqueles carrinhos de super velocidade através delas. Sei lá, não sei se eu tinha medo do que realmente poderia acontecer, ou estava com medo do meu próprio medo.


Um dia eu resolvi finalmente andar na maior montanha russa da América Latina (pelo menos era na época), e foi uma experiência ATERRORIZANTE. Eu tive medo do começo ao fim, me prendi no carrinho igual um bicho-preguiça, no entanto, quando o passeio acabou eu vi que o medo estava me privando de oportunidades. Oportunidades únicas onde eu jamais imaginei que seria possível.


Hoje eu AINDA tenho medo de andar em montanhas russas, mas só o fato de ter enfrentado meu medo no passado me mostrou que posso experienciar coisas que são indescritíveis e maravilhosas, só preciso me dar a oportunidade.

 

Medo é um sentimento super comum e que afeta 11 a cada 10 jogadores de Magic. Nós somos humanos e temos sentimentos “bons” como coragem e “ruins” como medo.


Há uma concepção extremamente errada de que devemos ser “corajosos” o tempo todo.


Um velho filósofo uma vez disse: coragem inconsequente não é coragem, é burrice!


A coragem e medo têm diversas aplicações no Magic. Hoje vamos falar sobre suas aplicações na escolha do deck e decisões durante uma partida.

 

 

 

A escolha do deck


Já conversamos diversas vezes aqui sobre a importância da escolha do deck para o torneio (neste artigo aqui), de como ir com um deck bem posicionado, ou que te deixe confortável, ajuda a conquistar mais vitórias.

 

Vamos sempre considerar que você tem a opção de jogar com qualquer deck do formato. Apenas para questões científicas, vamos ignorar valores das cartas e pensar que você tenha 4 de tudo à sua disposição para jogar, ok?


2014 foi meu melhor ano do Magic. Foi o ano que mais tive resultados, no T2, Modern e Legacy.


Passei o ano todo praticamente jogando de Miracles e obtendo ótimos resultados (10+ top 8 em torneios de 6 rodadas ou mais), porém, quando fui jogar o Nacional Legacy, não tive coragem de ir de Miracles, achei que iria tomar muito hate e que acabaria empatando muito.


Resultado: fui de Death and Taxes, um deck super mal posicionado no momento e abri 0-3. Não quer dizer que se eu tivesse iso de Miracles eu teria feito 50-0 sem esforço, porém era o deck que eu estava treinado, confortável e era uma melhor escolha de acordo com o field.


Até hoje eu passo por isso, não vou dar uma de COACH QUANTICO e falar que eu sei a solução para todos os problemas do mundo e que minha vida é perfeita, apenas que hoje eu sei que algumas escolhas de deck acabo fazendo mais pelo conforto de jogar com um que piloto há mais tempo invés de jogar com algo que eu sei que é uma escolha “melhor” mas que não estou totalmente confortável, mesmo sabendo que meu carro não é totalmente confortável e eu me dou bem com ele, assim como deveria ser com o Magic.

 

O efeito borboleta é real: a simples escolha do deck pode fazer com que você ganhe o torneio ou volte para casa de mãos abanando. Muitas escolhas da vida são difíceis e nós a fazemos mesmo assim, porque é algo que DEVE ser feito, e de preferência de cabeça fria.


Entenda suas limitações, ignorando o aspecto de falta de cartas específicas para fechar o deck que você quer jogar (abraço do Ragavan, Afanador Agil por 500tinhos), você deve entender se é melhor com decks agressivos ou reativos. Se seu negócio é jogar com decks sem vantagens aparente mas que conseguem bater de frente com o formato inteiro, como Lurrus deck ou se prefere algo como Ad Nauseam, que massacra uma porcentagem do formato sem muito esforço mas quando perde, perde feio.


Uma vez que tenha entendido qual sua facilidade no mundo dos arquétipos, decida se vai jogar com um deck que é bom independente das suas habilidades (ex: 4C Elementals) ou se você prefere ir com um deck que você masterizou (no meu caso é o Titanshift). 


Eu geralmente escolho baralhos ultra potentes em fields recém mudados, assim pouca gente se preparou devidamente e pode ser até que não entenda como seu baralho funciona, usando o efeito surpresa como arma, enquanto prefiro meu bom e velho Valakutão para fields travados e que já estão “resolvidos” pelo metagame.

 

 


A decisão mais importante

 

 

Existem jogadas conservadoras e agressivas e existem jogadores conservadores e agressivos. 


Meu estilo de jogo é o conservador, uso meu conhecimento do formato para calcular as cartas e jogadas que podem atrapalhar meus planos, tentando ganhar na certeza invés de depender de topdecks. Alguns jogadores, como o Nassif, são mais viscerais. Jogam baseados em seu intuito, unindo conhecimento teórico com prático de maneira mais rápida e automática. Nenhum tipo de jogador é melhor que o outro, desde que tenha noção do que está fazendo.


Jogar de maneira conservadora, ou NA RETRANCA, como chamamos por aqui, não é nada errado, se tiver um motivo!


O que acontece com muitos jogadores é que o medo asfixia seu pensamento. Você deve jogar na retranca quando souber que isso é uma estratégia válida de jogo. Infelizmente não é isso que geralmente ocorre, a falta de conhecimento do formato, de seu próprio deck, ou até mesmo a pressão de se ganhar um jogo importante, acaba nos cegando e dá impressão que é melhor jogar super conservador, contornando “tudo” do outro lado invés de fazer uma jogada que perde para as cartas X, Y ou Z.


Sabe qual é o problema disso? O Magic é um jogo de probabilidades, mas raramente você terá algo que é 100% de certeza. Se ficar pensando que pode perder para o topdeck alheio, acaba enrolando tanto o jogo que esse topdeck estará cada vez mais perto para o adversário.


O correto é sempre pensar na quantidade de jogadas que te atrapalham/te fazem perder o jogo, para a vantagem que sua jogada lhe trará.


No t2 de Return to Ravnica, quando eu estava de Jund Midrange, era bem comum ficar alguns minutos pensando se valia a pena gastar minha Perfuracao Letal e Putrificar para limpar a mesa e parar de sofrer dano, ou se esperava topdeckar uma das 4 Fogueira dos Malditos, que limparia totalmente a mesa adversária e ainda poderia me deixar com os outros 2 removals de reserva caso houvessem alvos nos outros turnos. Acontece que eu não podia ficar rezando por um Bonfire of the Damned do topo, pois ele poderia nunca vir e meus removals não resolverem o problema se conjurados tardiamente, mas também desperdiçar recursos “gratuitamente” não era sábio, um topdeck de Bonfire e o jogo virava completamente. 

 

 

Precisava deixar o medo de lado e trabalhar com estatística ou o conhecimento do formato/da partida em específico para saber se eu poderia ficar torcendo pelo topdeck ou se podia ir descarregando meus removals um a um, para sobreviver. 


Todos temos e teremos medo de algumas situações. Já joguei torneios onde eu não estava muito bem preparado e precisava tomar decisões baseadas em achismos invés de experiência teórica ou prática. É nesse tipo de situação que eu sei que o medo não pode me dominar. Se eu acreditar que uma jogada é a correta, faço, não posso ser corrompido e ficar procurando situações de 100% de vitória, pois elas raramente aparecem e a janela da oportunidade vai se fechando. Você VAI perder para topdecks, apenas tenha noção de que vai perder quando não tiver oura opção, e não porque você teve medo de fazer uma jogada e deu tempo para o oponente de encontrar o que ele queria.

 

O desafio final

 

 


Durante um bom tempo eu evitava jogar Standard por ter medo dos ótimos jogadores no formato. Sempre dava uma desculpa para não jogar T2 por puro medo. Quando me obrigaram a ir num torneio T2 que teria pelas bandas eu fui e acabei gostando. Meus preconceitos foram superados e vi que havia muito a se aprender e que meu conhecimento de outros formatos não era inútil ali.


O mesmo já ocorreu diversas vezes no Modern e até mesmo no Legacy, quando eu tinha receio de algo. Pra ser sincero, é algo que está ocorrendo agora. Um torneio grande se aproxima e eu não sei do que jogar, mas sei que não posso deixar meu medo me vencer. Eu até posso fazer 0-6 no torneio, mas que seja jogando, e não porque eu tive receio de ir com o deck X ou Y ou porque quis jogar de maneira tão acertiva que acabei perdendo sempre por bobeira.

 

Entenda seus limites

 

Se você pretende jogar competitivamente, presume-se que você tem na ponta da língua o field inteiro decorado, sabe o que cada deck faz e quais as estratégias contra seu baralho. No entanto, nem sempre isso é real. Alguns campeões de GP pegaram o deck 2 ou 3 dias antes e mesmo assim conseguiram ganhar um torneio de 18 rodadas (15+ top 8), apenas digo que faz uma boa diferença quando você entende de cabo a rabo tudo o que fazem contra você e o que você precisa fazer. 


Se sente que consegue fazer uma jogada, faça! Não pense tanto no que pode ser a resposta para ela. Óbvio que você precisa saber o que o adversário tem na manga contra você, mas quando entende que sua jogada perde para X ou Y, faça. Se der certo, parabéns! Sua jogada foi um sucesso. Se der errado, paciência, fica o aprendizado e depois você vê se jogou errado ou simplesmente perdeu para um out real do oponente.

 

O famoso recap para não esquecer:

 

- Ter medo é natural, a coragem e medo andam juntos. Não podemos deixar a coragem falar mais alto e se transformar em burrice, meça suas ações para os dois lados que geralmente estará num bom lugar.

 

- Baseie suas decisões em fatos: Se o número de respostas para a sua jogada é menor do que os upsides de ela resolver, manda bala!

 

- Não é porque a jogada deu errado agora que sempre vai dar! Aprenda com as situações para controlá-las mais facilmente na próxima.

 


Não se esqueçam de colar na cabana do Oreia no Youtube e na Twitch, onde sempre rola gameplay de vários formatos, discussões sérias e claro, muita groselha!


Um abraço e até a próxima!

Bruno Ramalho ( Bruno_Orelha)
Bruno Orelha é amante das estratégias de terrenos como Lands, Death and Taxes e Valakut. Capitão do Valakuteam e Youtuber nas horas vagas em www.youtube.com/brunoears.
Redes Sociais: Youtube, Facebook
Comentários
Ops! Você precisa estar logado para postar comentários.
(Quote)
- 26/11/2021 10:48:28
Parabéns pelo artigo, me ajudou muito a esclarecer algumas coisas, para o torneio do fds q vem
(Quote)
- 24/11/2021 15:47:14

Fico feliz que curtiu!


Nos jogos de luta podemos ver claramente uma diferença entre jogadores asiáticos, que são totalmente técnicos e quase nunca jogam com mindgames, enquanto EUA e Europa acaba sendo focado em mind games. Gosto desse tipo de approach ao jogo, onde você consegue ganhar uma partida "sem jogar", assim por dizer, apenas nos pequenos tricks aqui e ali, mas claro, sempre com parcimônica.




Po, que dahora. Eu sofri muito ao entrar no competitivo pq tive que aprender isso na marra hahaha

(Quote)
- 24/11/2021 09:07:41
Cara, que belo artigo! Estou começando a entrar no competitivo e esse artigo já me ajudou a enxergar muitas coisas.
(Quote)
- 23/11/2021 18:47:53
Excelente artigo. Esse tipo de artigo "fora das cartas" é o que mais sinto falta, mas é também dos mais difíceis de escrever. A questão de jogar ou com muito medo, ou com muita coragem, tem muito a ver também com questão de condicionamento.

Eu faço um paralelo com jogos de luta pq a lógica é a mesma: na matchup vc tem o seu deck ou boneco, contra o do adversário. Mas independente disso, e da vantagem ou desvantagem na matchup, os jogadores e sua parte psicológica contam muito, e em mais casos do que a gente gosta de admitir, contam mais do que todo o resto.

Eu falo de condicionamento pois há muito mindgame e leitura de oponente no Magic físico (eu desconsidero muito essa parte no digital), e o paralelo que eu traço é exatamente com Third Strike (meu Street Fighter favorito), que é um jogo em que vc vence mais pela sua capacidade de ler o oponente e de confundir a leitura dele (através do condicionamento) do que só por execução - no caso, no Magic o mais próximo a isso seria sequenciamento.

Esses "intangíveis" são importantes, variam de jogador pra jogador, e a experiência ajuda a desenvolvê-los sim, mas muito disso é inato. Ou é uma questão de briga interna do jogador com suas convicções, como apresentado no artigo. Conheço gente que joga pra trás até com Burn, e gente que empurra o limite da coragem até ela virar estupidez. Aprender a domar essa fera é importante pra jogar melhor, mas como vc citou no exemplo do Nassif, uns jogadores são mais viscerais que outros. Tem os mais pragmáticos, e outros que vão mais pelo feeling. Isso é da natureza de cada um, e não é algo ensinável.
(Quote)
- 23/11/2021 13:01:08
Amo seus artigos, me identifiquei muito em várias partes, como por exemplo quando quero pegar mítico no Arena, e fico com ''receio'' de que deck usar, com medo de me dar mal [ o que acontece muito rs ], só passa quando penso que pegar mítico ou não é só um pack a mais no mês, no biggie rsrsrs.
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