E aí, pessoal! Tudo certo?
Hoje eu gostaria de dividir com vocês minha experiência sobre o bootcamp realizado na semana do Magic Fest São Paulo, bem como meu resultado neste torneio. A ideia é passar para vocês como foi nossa preparação, um pouco dos métodos utilizados para a evolução, quais foram nossas conclusões e, por último, nossos resultados.
Para quem não acompanhou a fundo, o Bootcamp foi um projeto da LigaMagic, onde o objetivo foi reunir vários jogadores para passarem uma semana em árdua preparação para o evento. Os 8 jogadores que fizeram parte do treinamento foram: os membros do time Bolts – Eu, Juliano “Babones” Gennari, Lucas “Caparroz”, Matheus "Sandoiche" Yanagiura, os selecionados que participaram do processo de inscrição e seleção - Marcos "Caverna" Brandt, Bruno “Alakazans” Calazans e Pedro “Palestrinha” Dantas e o Eduardo “L1X0” Vieira, que foi convidado para o projeto.
A LigaMagic alugou uma casa (mansão) durante uma semana em Jacareí, cidade vizinha de São José dos Campos. A casa era realmente fantástica; era gigantesca, 3 andares, vários quartos e banheiros, sala extremamente confortável para comportar os 8 jogando ao mesmo tempo, espaço com churrasqueira (que foi devidamente utilizado para um churrascão de confraternização e encerramento do bootcamp) e uma piscina que refrescou os dias mais quentes da semana. Como nossa rotina era extremamente apertada, com horários pré-definidos desde o despertar até o encerramento dos treinos, não deu para utilizar a piscina todos os dias, mas nos dias mais quentes e nos dias que abria uma brecha nos horários, conseguimos desfrutar dela.
Nós chegamos na sexta-feira que antecedeu o Magic Fest, sendo este o dia para apresentações e definição de cronograma. Também teríamos o sábado “livre”, que apesar de já acontecer treino e acompanhamento do Mythic Champioship, ainda não existia a rigidez dos horários. No domingo, dia 10/11, foi onde realmente tudo começou a acontecer com os horários sendo cumpridos à risca, inclusive com o Juliano acordando todo mundo às 8 horas da madrugada.
A expectativa era bem alta, já que nós tínhamos ciência que éramos os únicos no país que estavam se preparando daquela maneira para o torneio e possuíamos um time de jogadores extremamente qualificados para evoluir o suficiente durante o tempo em que ficaríamos na casa. Todos os jogadores tiveram sua importância durante os treinos, cada um ajudando de alguma maneira e trazendo informações de várias plataformas além do jogo físico que rolava diariamente.
Nos primeiros dias, cada um foi trazendo suas preferências e impressões pessoais, explicando os motivos de acreditar porque cada deck estava bem posicionado, ou não tão bem assim. Como, paralelamente, estava acontecendo o Mythic Champioship em Richmond, nós acompanhamos tudo que estava acontecendo sobre o formato, já que ali naquele campeonato estavam jogando os melhores do mundo. No final do MC, todos já estavam simpatizando com o deck Sultai Sacrifice (que foi o deck escolhido pela maioria da casa), mesmo não tendo nenhum no top8. O deck conseguiu os melhores resultados na porção Standard do torneio e só ficou de fora do top8 porque nenhum dos jogadores pilotando o deck conseguiu ir muito bem no draft.
Logo em seguida apareceram os decks do top8 do Grand Prix Richmond, em que o deck campeão foi exatamente o Sultai Sacrifice, com 3 pessoas no top8 pilotando listas similares. A partir deste momento, nós começamos a ter como foco principal o desenvolvimento e evolução da lista, bem como os planos de sideboard. A ideia era testar o deck à exaustão, pois era um baralho extremamente difícil de se pilotar, com muitas mecânicas chatas de se fazer, contas a todo momento, posturas de jogo dinâmicas e planos de side complexos.
Todos conseguimos identificar com facilidade que a mecânica e interação das cartas Familiar do Caldeirao, Forno da Bruxa e Trilha de Migalhas era absurdamente forte, com potencial de fazer o famoso “snowball” muito rápido e tomar o controle do jogo com respostas para quase todos os tipos de ameaças que os decks do ambiente poderiam colocar a nossa frente. A dúvida que permanecia era se a melhor configuração era do Jund com o Diabo do Pandemonio ou a do Sultai com Oko, Ladrao de Coroas, já que o resto do deck era basicamente igual. O Jund parecia ter muita vantagem contra os decks de criatura baseados na mecânica de Aventura, com Estalajadeiro de Beiramuro, como o Selesnya Adventure, Golgari Adventure e o Gruul Adventure, porém contra o restante do formato, o Oko se demonstrava muito superior.
A partir da terça-feira, dia 12/11, com exceção do Caverna (que já dava sinais muito fortes que iria de Jund Sacrifice) todos estavam extremamente inclinados a jogar com a versão com azul, pois o fator Oko, Ladrao de Coroas pesava muito para o Sultai Sacrifice em relação ao Jund. Parecia um erro muito grave não jogar com uma carta que todos tinham certeza que seria banida no dia seguinte do evento; uma carta que, claramente, foi um erro e não deveria fazer tudo o que faz por apenas 3 manas. O Diabo era muito bom, conseguia roubar alguns jogos que pareciam perdidos, mas o Oko colocava o deck numa posição de superioridade nos jogos com extrema rapidez, ganhava jogos simplesmente por aparecer muito cedo e gerar uma vantagem desleal.
No último dia de treino o L1X0 decide fazer companhia para o Caverna e também vai de Jund. Gostaria de ressaltar que apesar de ter certeza que o melhor deck para o torneio era o Sultai Sacrifice, ninguém poderia falar que o L1X0 estava tendo uma escolha errada, já que ele estava treinado com o deck de uma maneira irreal, extraindo o máximo do baralho contra todos os matchups, em absolutamente todos os jogos. O L1X0 foi o criador do deck, a primeira pessoa que apareceu jogando de Jund Sacrifice nas plataformas online e o domínio que ele tinha com o deck era invejável. O Caverna também jogou muito com o deck, estava preparado e sabia como se portar nos jogos; com exceção desses dois, eu acredito que seria um erro grave se outra pessoa da casa abandonasse o barco do Sultai e migrasse para o Jund, mas felizmente isto não ocorreu.
Depois de montarmos o plano de sideboard contra os principais decks do formato (com o Caparroz liderando muito bem esta parte), cada um escolheu suas preferências, mas as listas eram basicamente as mesmas, com exceções de uma ou outra carta no sideboard. Todos estavam muito bem preparados com o baralho e a confiança estava muito alta, já que nós sabíamos o quanto tínhamos treinado, evoluído e chegado a conclusões que, possivelmente, a grande maioria das pessoas do torneio não tinham alcançado. Com esta confiança, listamos os decks, trocamos as últimas conversas e fomos dormir ansioso pelo torneio do dia seguinte.
- O CAMPEONATO
Acordamos muito cedo na sexta-feira, por volta das 5:30-6:00, já que iríamos sair de Jacareí para São Paulo e não estávamos dispostos a correr riscos de atrasar para o evento, já que a viagem durava cerca de 1:30h. Partimos em 3 carros e chegamos no evento com certa tranquilidade de horário. Pegamos com as lojas patrocinadoras as cartas que faltavam para os baralhos e estávamos prontos para um longo dia 1.
Como a maioria dos jogadores da casa, eu também não tinha nenhum BYE, então tive que lutar desde a primeira rodada. Sabia que o dia seria longo, mas isso não diminuía a confiança que eu tinha no nosso baralho e nosso preparo. Segue a lista:
Meu dia 1 foi fantástico: terminei o dia com o resultado de 8 vitórias e 0 derrotas (8-0), perdendo apenas um game no dia inteiro, ficando 16-1 em games. Enfrentei 3 Simic Flash, Simic Food, Sultai Food, Sultai Sacrifice, Jund Sacrifice (L1X0) e Gruul Aggro, não exatamente nessa ordem. Infelizmente enfrentei um companheiro de casa e amigo pessoal neste dia, mas desde o início nós tínhamos ciência que se nossas conclusões estivessem corretas, em um determinado ponto do torneio nós iríamos nos enfrentar. Felizmente ele também conseguiu fazer day2 e pudemos descansar juntos no dia seguinte.
Eu, Caverna, Juliano e L1X0 fomos gentilmente acolhidos pelo nosso amigo Pedro Uehara, que nos recebeu, junto da sua esposa Sofia, da melhor maneira possível. Ter um lugar confortável e aconchegante para ficar durante os eventos ajuda muito no descanso do corpo e da mente, por isso achei necessário destacar o agradecimento aqui ao Pedro e a Sofia. Com exceção do Juliano, que iria tentar garantir seu day2 no sábado, decidimos não ir ao evento no sábado, para ter o dia todo para descansar para o domingo, que seria outro dia desgastante e cansativo. Durante a passagem da noite para a madrugada o l1x0 começou a ter febre e se sentir muito mal e teve que ir ao médico para ver o que estava acontecendo. Depois de tudo resolvido, descansamos o sábado inteiro para um promissor domingo.
Com meu resultado da sexta-feira, eu comecei o domingo com 6 pontos extras, devido a nova estrutura adotada no torneio. Eu sabia que, além de mim, só tinham mais 3 jogadores com esse resultado: um Jeskai Fires, um Simic Flash e um Sultai Food, então obviamente eu jogaria contra algum deles na primeira rodada e, caso ganhasse, jogaria contra outro na rodada seguinte.
Começo o dia pegando o jogador de Jeskai Fires, que era o match mais chato dos 3, mas como a versão dele era a de planinaltas ao invés da de cavaleiros, o match era bem mais tranquilo. Consigo uma vitória bem rápida de 2-0, com o plano de sideboard sendo bastante efetivo no segundo game, sem dar espaço para o oponente criar ameaças ou desenvolver o jogo com qualidade.
Na sequência, pego o Simic Flash, onde somos os únicos jogadores invictos ainda no torneio. O vencedor do match seria o único jogador 10-0 no campeonato, ficando mais próximo do tão almejado top8. Consigo ganhar o g1 com uma certa tranquilidade, mas perco o g2 quase que sem ter reação às ameaças do meu oponente. Ele resolve uma Luneta Enfeiticada muito cedo, tendo informação da minha mão e nomeando Oko, Ladrao de Coroas, que eu tinha 2 na mão. Eu ainda tento algum tipo de reação, mas com alguns counters bem encaixado meu oponente sela o jogo.
O game 3 foi um jogo MUITO bom, onde os Gatos com os Fornos tiveram um papel assombroso, ganhando o jogo praticamente sozinhos, com auxílio de uma ou outra remoção pontual. Meu oponente consegue fazer criaturas muito grandes, muito cedo. Consegue encaixar alguns counters em cartas que me ganhariam o jogo, como Garota-massacre, mas o poder dos gatos com os fornos levou o jogo para uma troca de vida incessante, onde eu conseguia bloquear as maiores criaturas dele e recuperar a vida que eu perdia com as criaturas que passavam dano, até o momento em que meu oponente ficou com pouca vida e a drenagem dos gatos finalizou o jogo.
Na rodada seguinte, 11ª no geral e 3ª do dia, jogo contra outra Jeskai Fires, que, felizmente, também estava com a versão de Planinaltas ao invés da de Cavaleiros. Consigo ganhar com bastante apuro no tempo, em jogos que duraram muito mais tempo do que deveriam, com intervenções de juízes e alguns problemas de regras, mas nada muito sério.
Estando 11-0, eu sabia que precisava de apenas mais uma vitória para lockar o top8 e poder jogar as outras rodadas do suíço com mais tranquilidade. Sou paired down contra o Patrick Fernandes de BR Knights, que estava 10-1 no momento. Foram 3 games realmente muito bons, bem jogados por ambos jogadores. Eu me lembro que em um determinado momento do terceiro game, o jogo estava muito difícil para os dois, com várias linhas de jogo possíveis e muitas decisões a se tomar. Eu decido atacar com uma Fera Apaixonada // Desejo do Coracao num momento onde meu oponente tinha mais criaturas e mais vida do que eu, mas eu senti a necessidade de adotar uma postura mais agressiva, para colocar o meu oponente em uma situação desconfortável dentro do jogo e ter uma linha de jogo com decisões mais difíceis e ataques mais moderados. Minha decisão acaba dando certo e consigo ganhar um jogo onde ambos terminaram com pouquíssima vida e o bordo cheio de criaturas.
Agora, estando 12-0, sei que estou lockado no top8 e já recebo os parabéns de vários amigos. Estava muito feliz de ter alcançado esse objetivo e ver que toda preparação e treino renderam frutos. Neste momento, o Juliano me informa que além de eu ser o único 12-0 do torneio, o Caparroz é o único 11-1, significando que jogaríamos um contra o outro e que eu poderia conceder a partida para colocar mais um da casa e companheiro de time no top8. Saem os pairings e é realmente "Eu X Caparroz". Eu concedo sem nem pensar, feliz por sermos os primeiros garantidos no top8.
Na 14ª rodada eu jogo contra um BR Sacrifice, onde depois de eu ganhar de 2-0, meu oponente me pergunta se eu poderia conceder. Eu já estava garantido no top8, mas queria poder ajudar meus amigos a entrar também, já que o L1X0 e o bolov0 poderiam chegar a mesma pontuação do meu oponente e talvez ficarem de fora pelo desempate. Além disso, tem o fator de quem passa em primeiro para o top8, pode escolher quem começa em todas as partidas, não acontecendo mais a decisão pelos dados. Eu explico a situação para meu oponente e ele parece entender. No lugar dele eu também pediria pela concessão e espero, de verdade, que ele tenha entendido meus motivos e não acredite que eu fiz isso só para prejudica-lo.
Começa a 15ª rodada e eu enfrento outro BR Sacrifice, que já estava garantido no top8 também, ganhando com bastante suor de um oponente que jogou incrivelmente bem, que dominava muito seu baralho e sabia como jogar contra o Sultai Sacrifice.
Consigo avançar para o top8 em 1°, com um resultado incrível de 14 vitórias e uma concessão para o Caparroz sendo a única “derrota”. Com esse resultado, tenho a importante vantagem de começar todos os jogos do top8, já sendo fundamental no meu primeiro jogo, contra um BR Knights. Eu conhecia muito bem esse matchup, tinha jogado com o deck em uma das lives durante o bootcamp e sabia do potencial que o deck tinha de encerrar alguns jogos do nada com a temida Brasolamina. Me mantive sempre fora do range de alcance que a Brasolamina tinha para me matar, mesmo que tivesse que dar alguns blocks fracos. Eventualmente ele conseguiu me deixar com pouca vida depois de uma Brasolamina, mas logo o Oko a transformou em um Alce 3/3 e retomei o controle do jogo. O segundo game foi bem mais tranquilo, sem passar nenhum aperto de vida, ou de pressão de jogo.
Na semi-final enfrento o companheiro de bootcamp e de time Lucas “Caparroz”. Eu sabia que seriam jogos muito duros, já que eu estava enfrentando um mirror de quase 75 cartas, contra um jogador muito competente, que tinha acesso às mesmas informações e conclusões que eu. Era um oponente que sabia como jogar a mirror, que iria valorizar suas remoções e seus planinaltas, bem como saberia quais peças atacar e em quais momentos atacá-las. Lembro de começar todos os jogos atrás, mas mantendo a calma e sabendo que o mirror era definido por muitas coisas além de só um começo melhor. Consigo voltar para o jogo nos dois games que ganhei depois de algumas remoções e pontuais e de conseguir extrair valor das minhas cartas antes que ele removesse. Em um determinado momento do último game, comprei uma Trilha de Migalhas no momento certo, que me fez conseguir passar na frente e tomar o controle do jogo.
Jogaria a final contra um Simic Food e sabia dos perigos que existia nesse match. Para ser sincero, em nenhum dos dois games eu tive muita chance. Meu oponente jogou muito firme, confiante nas decisões e não me deu chance de me impor em nenhum dos dois jogos, muito pelo contrário. Com alguns bounces na hora exata e algumas Nissa, Abaladora do Mundo defendidas, meu oponente conseguiu com tranquilidade me derrotar por 2-0, merecidamente.
É óbvio que eu queria muito ganhar. Cheguei até ali sem ter perdido nenhuma partida em todo o final de semana, inclusive terminando o torneio com menos derrotas do que o próprio campeão. Gostaria muito de encerrar com chave de ouro. Mas nem deu para ficar triste, de verdade. Não tive chance em nenhum dos jogos da final, não foi como se faltasse um pouquinho de sorte, ou como se eu tivesse tomado decisões ruins. Meu oponente jogou firme e mereceu o título. Parabéns, novamente, Thiago!
Foi meu melhor resultado dentro do Magic e minha maior premiação também. Fiquei muito feliz com os frutos que colhi depois de tantos dias imersos em Magic. Sou muito grato ao projeto do Bootcamp da LigaMagic, por ter nos proporcionado todo apoio e toda estrutura necessário para que pudéssemos nos dedicar só em treinar para o evento. Gostaria de agradecer também as lojas patrocinadores do time, que nos cederam as cartas que faltavam para completar os baralhos.
E por último e mais importante, gostaria de agradecer MUITO aos companheiros de bootcamp. Obrigado por toda experiência, por toda ajuda, por tantas informações, conclusões, decisões e risadas. Esse resultado tem a participação de cada um de vocês, sem exceção!
Enfim, é isso aí, me desculpem se ficou meio longo, mas senti que realmente tinha muita coisa a ser dita, já que o report foi de basicamente 10 dias de magic. Obrigado a todos que torceram por mim e ficaram felizes com meu resultado!